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A PSICOLOGIA DA CRIANÇA INTERIOR

"No adulto está oculta uma criança, uma criança eterna, algo ainda em formação e que jamais estará terminado, algo que precisará de cuidado permanente, de atenção e de educação. Essa é a parte da personalidade humana que deveria desenvolver-se até alcançar a totalidade" (Jung, 1934/1986)


A infância é um momento na vida do ser humano, caracterizado por um amplo desenvolvimento físico e psicológico que envolve fortes transformações na personalidade. O progresso da criança implica uma série de aprendizagens essenciais para a sua formação e estruturação na sua vida posterior. Assim sendo, ela necessita ser respeitada em seus dons e estimulada para desenvolver suas capacidades e autoconfiança. As crianças são muito susceptíveis às influências do meio e se modificam em contato com o ambiente. Jung falou sobre a infância abordando-a como um estágio infantil da consciência, onde a vida psicológica do indivíduo é governada basicamente pelos instintos e ainda não existem problemas, porque a criança é absolutamente dependente dos pais. “É como se (ela) não tivesse nascido ainda inteiramente, mas se achasse mergulhada na atmosfera dos pais. O nascimento psíquico e, com ele, a diferenciação consciente em relação aos pais só ocorre na puberdade, com a irrupção da sexualidade.” (Jung, 1930/1986). Portanto, o trabalho com crianças implica conhecer o meio que a influencia. Ocorre com ela, o mesmo que se passa com o ser humano primitivo, que não pensa, mas sim que "algo pensa dentro dele". Sua consciência é invadida pelo poder do inconsciente coletivo (comum a todos), daí o medo de influências mágicas. Um aspecto fundamental da criança é o seu caráter de futuro. A criança é o futuro em potencial. Significa que possui em si, uma antecipação de desenvolvimentos futuros. Não admira que tantas vezes os salvadores míticos são crianças divinas. O símbolo da criança aponta para frente, para uma meta ainda não atingida. Portador de cura e superação dos conflitos, este simbolismo pode ser expresso, por exemplo, pelo redondo, pelo círculo ou pela esfera, ou então pela quaternidade como outra forma de inteireza. Esta inteireza que transcende a consciência é o Si-mesmo (centro da totalidade psíquica). (Jung, 2002) Geralmente, trazemos dentro de nós uma imagem da infância ideal, de acolhimento e demonstrações de amor perfeitos, que muitas vezes poderá ser projetada nos outros, então, idealizamos relacionamentos que podem aumentar nossa solidão e dor. Por trás dessas imagens está a criança carente que precisa ser alimentada pela criança divina interior, esta é um símbolo de transformação, de cura, daquilo que nos torna inteiros. Curar essa criança interior debilitada, através do contato com a criança divina interior, constitui uma tarefa importantíssima, pois nos possibilita não continuarmos mantendo inconscientemente alguns padrões com nós mesmos e nossos próprios filhos. A criança interior divina tem a inocência, a espontaneidade e o anseio profundo da alma humana por expandir-se e crescer. Às vezes, essa criança interior apresenta-se por emoções, ansiedade, depressão, raiva, conflito, vazio, solidão, ou sintomas físicos. A força vital e natural desse arquétipo (padrão inato de comportamento) quer o nosso reconhecimento e, ao ser ignorado, pode acarretar sérias consequências. Quando não fomos devidamente valorizados quando crianças, diminuímos o valor da criança interior e assim mantemos as vivências de nossa infância e seu sofrimento.    A criança com suas vivências pessoais negativas, vítima de abuso, negligência, não amada, excessivamente criticada, cobrada, humilhada, vulnerável e carente, busca se defender mais tarde dessas primeiras experiências sofridas. Estas defesas são formas inconscientes de fugir do que um dia sofreu e pode vir através dos abusos, encontrados no excesso de álcool, comida, drogas, sexo, poder, dinheiro, enfim, é a busca pelo externo que “alivia” com o intuito de não sentir o que está dentro e a impede de prosseguir. É importante buscar o aspecto divino da criança interior que habita em todos nós, que é a fonte que pode nos oferecer coragem, entusiasmo e, principalmente, cura. Ela é divinamente inspirada, irradia luz para quem vai ao seu encontro e ilumina nossa escuridão. A cura pode muitas vezes ser obtida quando se encontra essa criança divina, muitas vezes abandonada, mas que nem sempre reconhecemos sua existência em nós, pelo fato da resistência e máscaras que vamos desenvolvendo no decorrer da vida e que nos distancia de nosso verdadeiro eu. Nossa criança interior divina, símbolo do Si-mesmo preserva nossa força espiritual e é o que a nossa alma deseja seguir como verdadeiro caminho em busca de nos realizarmos plenamente. Autora do artigo:

Eneide Caetano Analista Junguiana membro da International Association for Analytical Psychology (IAAP), Associação Junguiana do Brasil (AJB) e Instituto C. G. Jung/MG  Diretora de Comunicação do ICGJUNG-MG (gestão 2017/2020) Especialista em Sexualidade humana e Educação Sexual Psicóloga Perita Examinadora de Trânsito 30 anos de experiência profissional O que quer que se diga acerca das crianças e da infância não é de todo, realmente, acerca das crianças e da infância” (James Hillman). Fontes: JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: a Vozes, 2002. ________________ O Desenvolvimento da Personalidade. Petrópolis: Vozes,1986. ________________ A Natureza da Psique, Petrópolis: Vozes,1986. Portal Educação - A criança interior e os seus arquétipos

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